sábado, 17 de julho de 2010

Catando do chão


Hoje eu voltei de um lugar ruim e tudo o que eu queria antes eram paredes com crianças enfileiradas de narizes sangrando tinta guache. As paredes brancas nem sabiam a luz que precisavam ou se tinham que esconder seus riscos e suas sujeiras. A luz da lanterna marca um alvo: luz amarela que expõe o palco. Mas não era nada disso que queria... Necessitava da força encontrada na dor. Dor de passados que não passam.

Embora tudo ainda me atormente, um hoje penetrou pelo meu sossego até chegar na minha zona de ação, e minha atitude perante a vida foi fazer o que fosse mais fácil de fazer, porém de primordial feitura. Qualquer energia em frente é bem-vinda. No teen-against! Sem berços desovando filhotes da raiva sem-noção. Um diálogo ainda pobre, carregado da munição tola de toda essa juventude que teme o passar dos anos. Acabou aqui! E o que temos? Quem somos e qual nossa marca - nem perguntas conseguem ser. Deveríamos ter sido escolha antes que tentassem tirar nossa cara e substituir pela engrenagem que sorri ordem. Perdemos a paz na ordem e a ordem se fudeu. Estalei os dedos sob o comando de cérebro alheio. Antes, quando vivia, saia de casa apressado pra ser alguma coisa.

E fui. Lembro de ter feito alguma coisa, ouvido alguma coisa... Falado um pouco talvez, não mais que duas palavras e relaxado por não precisar pensar no que fosse. Saí de lá bem. Mas bem, bem, bem nem ele que me queria tão bem soube ser merecedor do bom que todo bem pode trazer. Então não foi bem assim. Mas saí de lá andando. E eles me seguiram e eram muitos, juntos de risos debochados que riam de mim. Cavei o que de ridículo trazia na minha aparência, mas fui atormentado pela possibilidade de estarem vendo além disso. E realmente não viam nada do que era por fora. Viam meu ridículo interior! Toda babaquice e caretice que nunca me cansou. Continuaram pelo mesmo caminho que eu, me assustando com os medos que tinha construído. Ao invés de encará-los, busquei outros caminhos na tentativa de despistá-los, e disse gritando que aqueles rostos não eram meus. Cheguei finalmente em casa por atalhos diferentes dos deles. Tranquei a porta, entrei no quarto, coloquei Sonic Youth e fingi que tinha um cigarro pra fumar e amigos pra chegar. Fucei folhas em branco, escrevi bobagens em tópicos pelas paredes e coloquei tinta debaixo do nariz. BUM! A revolução estourou do outro lado da tela e chorei sem parar... "não me custou um centavo, era caseira."

Não sei se vou continuar nessa luz que me cega.