terça-feira, 31 de julho de 2018

sercular


da orelha sai um olho
que cospe outro olho
fazendo ao contrário
nariz meio largo
que respira pra frente
boca escondendo dente
de cujo lábio baixo
estica quase braço
cheio de dedos dados
com dedos espaçados
em uma mãozinha
que em pulso termina,
pulsando uma bola,
depois um pau,
enfim outra bola
até dar no calcanhar
de um pé algo torto
indo acabar
num pé todo novo
enganchado na borda
do brinco de argola
da orelha mesma
que bem corriqueira
iniciou a besteira
de percorrer inteira
a rota circular do ser
que se termina ao nascer

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Vida de cão



A cachorra passa mostrando os dentes
Não como se estivesse contente,
Embora esteja quase sempre,
Mas como se apenas respirasse,
Provando estar viva
E isso bastasse.

A cachorra não sorri quando late.
O faz estranhando alguma parte
Do quintal que esconde sobressaltos.
Late estufando o peito, esticando o rabo.
Uma hora para,
Volta,
E desestranha a fala.

Quando deita,
Fecha a boca e se ajeita.
Arranha as unhas no concreto
Como se cavasse sono quieto
Que a um tempo chega
E a escavação deixa
De ser necessária.
E a cachorra deixa
De estar acordada.

Penso que se ronca,
E nisso treme,
É para fazer presente
A mesma vida dos dentes,
Da latição,
E do arranhamento.