quarta-feira, 25 de julho de 2018

Vida de cão



A cachorra passa mostrando os dentes
Não como se estivesse contente,
Embora esteja quase sempre,
Mas como se apenas respirasse,
Provando estar viva
E isso bastasse.

A cachorra não sorri quando late.
O faz estranhando alguma parte
Do quintal que esconde sobressaltos.
Late estufando o peito, esticando o rabo.
Uma hora para,
Volta,
E desestranha a fala.

Quando deita,
Fecha a boca e se ajeita.
Arranha as unhas no concreto
Como se cavasse sono quieto
Que a um tempo chega
E a escavação deixa
De ser necessária.
E a cachorra deixa
De estar acordada.

Penso que se ronca,
E nisso treme,
É para fazer presente
A mesma vida dos dentes,
Da latição,
E do arranhamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário