sábado, 2 de outubro de 2010

Texto errado persistente


A areia foi entrando pela boca, me sufocando de grão em grão. Preencheu meu pulmão e o tornou duro feito pedra; o ar doeu. Respirei forte pelo nariz, numa tentativa de recuperar a facilidade de viver, mas acabei por misturar catarro à volumosa massa de areia. Entupi e cuspi. Foi então que o desespero deu o primeiro passo: comecei a me debater, ansiando por fugir dali e sentir a emoção de escapar, estar a salvo de um perigo que não foi perigoso o bastante para me aniquilar. E observá-lo de longe achando tudo engraçado. O alívio. Todavia, esse instante agonizante nunca cessava, e a questão da eternidade causou-me um temor triste. Entreguei-me às lágrimas. A areia foi descendo e encontrando todos os espaços deixados vazios até chegar ao coração. Então, disparou pelo corpo um calor incomum de felicidade; um que pelo inverso subia. Voltei minha mente à uma conexão celestial. Rezei, rezei e chorei. No fim, misturei tudo: lembranças perdidas e resgatadas, sofrimentos arrependidos, carinhos infantes, uma loucura adolescente de fuga eterna, a virgindade dos encontros verdadeiros, braços abertos como feridas fraternas, caminhada frustrada de homem, a imagem de indescritível realeza, que entendi como amor - vomitei! Arrebentei minha garganta com as unhas, chamando a visão infernal do ódio vermelho enlamado na areia. Meus olhos piraram, virando pra dentro e encontrando meu coração quase em cima. Ele pulou para fora pelo buraco aberto na garganta. Fugia pra longe. Não permiti, mas meus braços já não se mexiam. Pensei em explodir. As vitórias derrotadas com êxito sublime pela desistência da vida foram premiadas com a morte dum corpo cuja alma também pereceu, tenra e ilusória, fechada em si. Fiquei errado.

Ideias


Olhar vazio parado na sombra sem cor. E como sombra se fez, se nem luz há? Xita, monkey! Samba sonífero! Dolorido numa dor sem corpo. Alma vã e vaga: o secreto inexiste.

Quebrando, partindo e vendo o que mente: as cores, a luz e o sol divertido. E o escuro.