sábado, 1 de maio de 2010

Batidas


Dia 29 de abril, eu não tinha para onde ir. A faculdade me esperava pacientemente e o relógio me marcava os passos com olhos indagadores: "Por que aí? O que quer encontrar nesse buraco? Pra quê se inclinar à esquerda? Não se estique tanto! Venha correndo, mas não pra trás! Onde anda sua razão?", mas ainda estava na estação de metrô comendo um folheado de quatro queijos ao lado de um bloco com uma mulher desenhada. Quem me marcava: a hora, os queijos ou a caneta?

Pequei, peguei o metrô rodeado de dúvidas. Embaraçoso era ouvi-las cantando, impedindo minha concentração nas conversas dos outros. Ainda me prendiam no centro. Centrado no centro do cantarolar, ainda me perdi do lado de fora dos assobios. Chorei com as músicas do Legião. Não, não! Na verdade ontem não existiam músicas, só memórias... Lembranças de músicas que só lembro agora. Nem sei se ao menos... nem sei... ao.

Cheguei na Urca. Chovia, entrei, vi o vazio, saí.

Saí andando da faculdade de quase ninguém por causa horário cedo. Simplesmente andando, fazendo o que os passos pediam. Fui um boneco entre a chuva e a imprecisão quente encubada nas minhas coxas. Insisti ainda no guarda-chuva por um tempo que foi sumindo conforme o vento aumentava. Vi uma praça de bancos molhados, estátuas molhadas, folhas molhadas. Estava numa área do exercito. Uma área do exército molhada. Tudo era agradava minha falta de destino! Tirei meus óculos e fechei o guarda-chuva. Permaneci seguro para as novidades. O mar já ia chegar.

Finalmente a praia vermelha. Era final de tarde escura, por volta de cinco e dez, quando descobri que tinha uma praia na minha frente. Eram certas essas algumas horas, mas o tempo já havia me perdido no meio das botas encharcadas, fazendo cambalear a mente pelo chão. A praia era curta e a segui com os olhos daqui pra lá, até o lá ser perfeito para parar.

Chuva fina,
vento forte e frio,
ondas bravas,
dança do véu no costão
coberto de agulhas em prece.
Uma praça deserta atrás,
um pescador vulto-negro guardando suas coisas
e o som constante de algo batendo.

Batia no fundo do meu ouvido e parecia mais alto que o mar (infinito na névoa). No fundo, parecia o coração de uma árvore... Era o Brasil! Com a praia ainda impressa no corpo, pude ver a bandeira do Brasil bater forte contra o vento. Chorei tristezas estranhas.

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