domingo, 19 de junho de 2011

Um velho esquecimento


Hoje, lembrei o que nunca me disseram. O que deixaram escapar num porém de silêncios. O que quiseram fingir que nem cabra velha era. Nesse mesmo hoje, eu esqueci o que lembrei, e acho ser assim porque fugi da resposta. Agora percebo que o que lembrei era pergunta sem entonação de pergunta. E era questionável. Quanto tempo até que os silêncios voltem, preu saber e escrever o que sei? Ah, mas teria que saber a resposta antes. Por quanto tempo posso aguentar esses esquecimentos?

"Por tantos dizeres de imperceptíveis vozes."

Mas cá estou eu, num livreiro enorme de gordo. Sim, cá estou a sufocar um pobre homem que só queria vender “A insustentável leveza do ser”. Nem sei por que me perdi em sentimentos de raiva e ódio. E nem sei por que ainda não joguei esses sentimentos fora. Esqueci o que queria dizer e como costumava andar por ali sozinho. Esqueci como andava. Certa vez um amigo me disse que quando via uma mulher saída de seus desejos, esquecia como é que gente anda. Ninguém esquece como se anda, é como andar de bicicleta, ô meu velho amigo! Ele esquecia mesmo. E eu tinha ataques de raiva e esquecia porque os tinha. E só queria me esconder dos que me chamavam de caduco.

Aí vi que o livreiro não era pessoa, era de madeira. E pra descer depois? Ele ainda era grande e gordo, só que não gritava mais. Esqueci o que significava livreiro. Da próxima vez que quiser construir alguma ideia talvez deva parar pra ouvir o silêncio antes, senão esqueço os pontos e cometo atrozes erros de ortografia. Mas da próxima vez devo cair pra não ter que subir de novo, que quando se está no chão fica tudo bem; posso me abrir todo, esticar bem os braços... seguro e dono dessa segurança. "How deep is your love?"

Mas você vem até mim numa noite de verão e a lua tá tão bonita que eu resolvo te reconhecer. Ah, minha bela! Você é tão minha salvadora quando, não sei por que, enlouqueço. Você me dá a mão e me leva até o longe a passos corridos. E aí, quando deitamos no chão, minha doideira encontra paz na sua. Ninguém me incomoda com perguntas que não lembro. Você, meu docinho de caju, parece tão apimentada às vezes, que choro. E quando choro, seus dedinhos me enxugam todo. Mas o que é que eu queria dizer mesmo? É que agora sei quem é você quando, antes de chegar, vejo pela porta um nada de intuição, e no silêncio, consigo ouvir seus assobios. Agora, acuado, só sei dizer: “Ei, ei, ei, o que está acontecendo?”

E não tenho resposta alguma, só um “ei, ei, ei” de volta que começa a querer cantar.

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