sábado, 5 de novembro de 2011

A teoria


Quando era pequeno, disse pra mãe: "Sabe que eu sou neurótico assim por bobeira. Já percebi que as pessoas guardam as coisas por pouco tempo. Por exemplo, se eu faço uma coisa que me envergonha, como sei lá, se eu falo uma besteira indelicada, as pessoas só guardam aquela impressão ruim de mim por no máximo cinco minutos. Já contei. Acho que só há rancor quando é algo muito pesado e, mesmo assim, só com alguém muito íntimo." Na ocasião, ele parou, pensou e continuou: "Então é uma tremenda bobagem nossa ficar ligando pro quê os outros pensam. Ficamos em suas mentes por tão pouco tempo que nem dá pra criar um ninho. Aquela coisa de primeira impressão ruim é a que fica é idiota, até porque acho que nem existem primeiras ou segundas ou, sei lá que numeração de impressões. Impressão só existe uma: a verdadeira! Se não é essa, não é nada e não causa coisa alguma. Simples assim." Ele riu: "Cinco minutos e nada; nenhum registro."


Mais velho uns cinquenta anos, ele continuava neurótico com números e pessoas. O que elas pensavam a seu respeito, sobre o que conversavam quando não estava presente, se o conheciam tão bem quanto diziam - vivia testando amigos para averiguar se realmente sabiam seus gostos e suas lembranças mais dolorosas, e assim decidir continuar ou não a amizade. A maioria dos seus amigos não passava no teste, mas ele fingia que se magoava por um pouquinho de tempo e continuava a papear, amargurado de verdade por dentro. A outra parte dos amigos havia morrido, e também nunca passaram de cinco minutos.


No dia em que disse o que disse para mãe, ela respondeu com risos as seguintes palavras: "Ah, você é estranho. Às vezes tenho certeza que é a reencarnação de algum escritor famoso." e ele perguntou porque, já que sempre analisava tudo, e ela respondeu insatisfatoriamente: "Ah, não sei. É porque você tem essas ideias estranhas que ninguém tem." Ele ficou feliz, mas fingiu que não. Conforme foi vivendo, o velho pequeno cientista da teoria dos cinco minutos, continuou sem perceber que tivera ao seu lado a melhor experiência de amizade. E quando ela - a mãe - morreu, ele continuou sem perceber, pois não guardara impressão alguma a seu respeito. Infelizmente impraticável.

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